“Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.”
Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, é o poeta clássico, da serenidade epicurista que aceita, com calma lucidez, a relatividade e a fugacidade de todas as coisas.
Este excerto do poema “Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio” é um bom exemplo da focagem de Reis em aproveitar os pequenos momentos da vida sem nunca ceder aos excessos. Procuramos exportar a cena descrita deste bocado do texto lírico e representar uma mulher à beira-rio.
Em primeiro lugar, criamos o rio. Para isso, utilizamos duas das vinte e quatro linhas propostas pela professora, distorcemo-las de modo a que se assemelhassem às ondulações da água dos rios. Para acentuar ainda mais essa semelhança, o azul foi a cor escolhida para «pintar» estas linhas. De seguida, regressámos às palavras iniciais do primeiro verso. Tendo estes fonemas sons sibilantes decidimos aumentar o «S» e ligar as duas palavras que começam o excerto. De salientar que, em «suave», foi usada uma sombra leve para dar um ar de maior suavidade literalmente; o mesmo foi feito à «memória». Contudo, deve-se reparar que a sombra nesta palavra é mais acentuada para causar a ilusão de maior desfoque.
As palavras “lembrando-te assim - à beira-rio” foram literalmente justapostas ao rio já criado.
A silhueta de uma mulher foi desenhada e preenchida com palavras das já referidas vinte e quatro linhas. As «flores» ganharam forma – em tons de roxo, uma cor pouco viva que não demonstra alegria, mas também não trás melancolia, é neutra, como Reis – e foram dispostas no «regaço» desta «pagã triste».
“Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que uso!”
Alberto Caeiro apresenta-se como um simples «guardador de rebanhos», que só se importa em ver de forma objectiva e natural a realidade, com a qual contacta a todo o momento. Daí o seu desejo de integração e de comunhão com a natureza.
Tal como no trabalho de Reis, procuramos ilustrar os versos fornecidos com a ajuda do texto que pesquisamos – neste caso sobre as características deste heterónimo de Pessoa. Para isso, tentamos harmonizar no mesmo trabalho a ordem e a desordem. A primeira através das linhas e das letras bem definidas, geométricas e com aspecto mais formal. Já a segunda é representada com letra mais «animada» e viva, com distorções do texto; em resumo, com aquilo que se opusesse ao espaço bem delineado.
Com o texto compusemos uma imagem simples de uma paisagem natural vítima da ordem do Homem, com as suas linhas que tudo ligam – uma árvore, a terra onde está plantada, e um conjunto de linhas latitudinais e longitudinais que ocupam o espaço livre do ambiente desorganizado do mundo natural. A cor verde, cor do ambiente, destaca-se nos tons de negro das linhas. O tipo de letra que constitui a ramagem da árvore e a terra é mais familiar, tendo as letras da primeira sido distorcidas para mais se assemelharem às folhas dos ramos. Por sua vez, o tronco foi violado pelo ser humano com os seus letreiros, tornando-se organizado, assim como o seu tipo de letra – mais clássico.
“Ó rodas, Ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!”
Terminamos com Álvaro de Campos, o heterónimo futurista, apologista da máquina e da sua força.
Sobreposto a um fundo composto pelas vinte e quatro linhas, colocamos um comboio, sem rodas. A partir daí, montamos as rodas e as engrenagens utilizando as três primeiras palavras do excerto: «Ó rodas, Ó». Seguindo uma certa linearidade na ilustração do verso inicial, as «engrenagens» surgem atreladas ao comboio, como se de uma outra carruagem se tratasse.
O «r-r-r-r-r-r-r eterno» das máquinas espalha-se com o fumo da locomotiva, movida pela força das mesmas.
Para o segundo e último verso apostamos na capacidade dos tipos e cores das letras para transmitir o sentido que cada uma representa. Assim, temos um «Forte» a negrito e sublinhado, que aumenta o seu poder; um espasmo distorcido que se estende às outras palavras e uma fúria, vermelha, enraivecida, pronta a explodir e espalhar todo o seu poder.
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